domingo, 28 de fevereiro de 2010

Homens: mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Mulher! Um vocábulo simples que abrange uma significação complexa. Um ser de infinita adjetivação social que traz consigo o dualismo de sentimentos que são inerentes da essência feminina. Embora considerada um sexo frágil, ela vem mostrando a bravura de ser mulher. De uma simples imagem de objeto sexual e/ou reprodutora, a mulher vem conquistando, lado a lado com o homem, o seu espaço na sociedade desigual.
Desde o momento da construção da consciência feminina, a mulher na sua trajetória histórica vem lutando contra a visão machista da sociedade sem perder o que é mais de precioso: os aspectos subjetivos dos seus sentimentos.
Frágil, Guerreira, amante, entre outros. São vários os adjetivos relacionados à mulher que tentam dimensionar as características femininas quem embora a descrevam, não conseguem contemplar a infinidade da sua singularidade humana.
Sem perder o seu encanto, elas fazem parte do mercado de trabalho desleal; sofrem o assedio moral e sexual de uma sociedade que tenta desvalorizar seu papel na economia que ainda crer que a mulher é para o lar e educação dos filhos. A mulher é muito mais do que um simples lar; ela é construtoras dos avanços sociais. Com sua particularidade sentimental, elas conseguem conquistar o que querem.
Embora, seja alvo da brutalidade da competição do mercado de trabalho, elas conseguem educar e amar como ninguém. São mulheres como aquelas de Atenas cantada por Chico Buarque que são exemplos de amor e dedicação:

"Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Vivem pros seus maridos/ Orgulho e raça de Atenas/ Quando amadas se perfumam/ Se banham com leite, se arrumam/ Suas melenas. Quando fustigadas não choram/ Se ajoelham, pedem imploram/ Mais duras penas, cadenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Sofrem pros seus maridos/ Poder e força de Atenas/ Quando eles embarcam soldados/ Elas tecem longos bordados/ Mil quarentenas. E quando eles voltam, sedentos. Querem arrancar, violentos/ Carícias plenas, obscenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Despem-se pros maridos/ Bravos guerreiros de Atenas/ Quando eles se entopem de vinho/ Costumam buscar um carinho/ De outras falenas/ Mas no fim da noite, aos pedaços/ Quase sempre voltam pros braços/ De suas pequenas, Helenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Geram pros seus maridos/ Os novos filhos de Atenas/ Elas não têm gosto ou vontade/ Nem defeito, nem qualidade/ Têm medo apenas/ Não tem sonhos, só tem presságios/ O seu homem, mares, naufrágios/ Lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Temem por seus maridos/ Heróis e amantes de Atenas/ As jovens viúvas marcadas/ E as gestantes abandonadas, não fazem cenas/ Vestem-se de negro, se encolhem/ Se conformam e se recolhem/ As suas novenas/ Serenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Secam por seus maridos/ Orgulho e raça de Atenas.

Enfim, poderia ter utilizado qualquer outra musica para retratar a figura da mulher, porém, estaria tendo uma visão distocida da realidade feminina. Não que eu tenha uma imagem de mulher submissa, mas concebo uma visão romântica da mulher. São heroínas que convivem com o mundo selvagem sem perder a feminidade. Quando amam são amantes eternas, capazes de secarem e perderem a vividez por um grande amor. São seres apaixonantes e apaixonadas por seus ideais. Mulheres que lutam para serem felizes e para tornarem tudo a sua volta em amor. São mártires de uma sociedade em que a muito tempo perderam seus valores e princípios e, como homem, sugiro aos demais a mirarem no exemplo das mulheres de Atenas que largam tudo em favor dos seus ideais.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De volta à barbárie

Assistindo ontem o paredão do BBB10 percebi o quanto o Brasil é um país antagônico. Durante séculos o povo brasileiro lutou pelos direitos humanos; direito da livre expressão; direito a liberdade sexual; direito de conviver numa nação sem preconceitos e rótulos. Foram inúmeros indivíduos que sacrificaram suas vidas aspirando um Brasil sem preconceitos, na tentativa de construir uma nação onde todos pudessem exercer sua cidadania de fato e de direito.
Não podemos esquecer que a historia brasileira foi, e ainda continua sendo, repleta de fatos de intolerâncias contra as minorias. Quantos índios e negros foram escravizados, mortos e ceifados seus direitos? Quantas mulheres foram destituídas do direito de decidir o seu próprio futuro, tornando meros objetos do machismo? Quantos homossexuais não foram agredidos e mortos pelo fato de lutar pela liberdade de expressar seu amor? Em nenhum momento da historia a classe dominante preocupou-se com os excluídos e os marginalizados, pelo contrário, procuraram cada vez mais segregar as minorias nos guetos da sociedade.
Quando achamos que estamos superando os nossos limites da intolerância ao próximo, assistimos em canal aberto a carnificina dos direitos individuais de livre expressão. Sabendo que um dos maiores mecanismo formadores de opiniões é a televisão, a qual tem um papel crucial na formação de consciências humanitária, verificamos que este papel foi jogado na lata de lixo em prol da audiência e, quem sabe, obter mais lucros com a violação dos princípios éticos, morais e políticos.
Quantos brasileiros neste momento estão regozijando ao saber que um indivíduo másculo, com gírias toscas, comportamento selvagem e heterossexual foi escolhido para continuar na luta pelo um milhão e meio de reais?Algo contra? Não! Todos têm o mesmo direito, porém, não podemos esquecer que neste caso outra pessoa foi oprimida e marginalizada. Será que o resultado não seria diferente se a concorrente no paredão fosse heterossexual? Quantas pessoas não explodiram de alegria ao escutarem que um indivíduo iria quebrar o dedo da adversária e enchê-la de pancada até ser atendida num pronto-socorro se ela não fosse mulher? Quantos brasileiros não gritaram aos quatros cantos do país o seu apóio ao candidato e repúdio ao adversário do sexo feminino e de orientação sexual oposta?
“É isso mesmo Dourado, quebra o dedo desta sapatona!” “Vai Dourado, elimina essa bigoduda!” “Mostra ao Brasil que somos um país macho!” “Vamos acabar com essa viadagem no Brasil!” Essas e inúmeras outras frases foram clamadas em todo o Brasil. Contudo, alguém percebeu algo nestas frases? Por que será que em nenhuma das frases a Angélica não foi chamada pelo seu nome de batismo? Por que não o chamaram o Dourado de bruto, de selvagem, de tosco? Sabe por quê? Pelo simples fato da Angélica ser mulher e não ser heterossexual. Infelizmente a sociedade machista brasileira não aceita que a mulher ocupe espaço de destaque e muito menos recuse se submeter aos desejos sexuais masculinos.
Entretanto, não só culpo os brasileiros por esta atitude; a emissora contribuiu para que se propagasse uma cultura de intolerância e violência contra o próximo. Bem criativa as charges exibidas pelo programa. Porém, esquecemos de fazer uma análise profunda da ideologia imposta de forma astuciosa. Por que sempre as caracterizações dos indivíduos homossexuais são exacerbadas pela orientação sexual? Será que alguém percebeu que o veículo motorizado da Angélica tinha formato de sapato? Por que será que tinha esse formato e qual finalidade tinha? Seriam estereótipos...?
Fico ainda mais triste ainda em saber que milhares de brasileiros se lamentam ao ver na mídia indivíduos de orientação sexual diferente das deles e acham que os mesmos são influências negativas para a educação dos filhos. No entanto, nenhum pai ou mãe questiona os valores grotescos do Dourado. Será que estes pais preferem que seus filhos sejam agressivos, bandidos, agressores, assassinos a serem gays ou lésbicas? Cadê os valores humanos da família? Ser um indivíduo de orientação sexual diferente é tão tenebroso assim?
Não entendo o por quê dos brasileiros almejam tanto um país sem violência ao passo que nas pequenas atitudes se mostram intolerantes. Se quisermos educar nossos filhos na cultura de paz, valorizando os princípios éticos da boa convivência; é preciso, antes de tudo, aprender a respeitar o próximo. Ter uma tonalidade de cor diferente, uma orientação sexual diferente, um aspecto físico diferente não é sinônimo de inferioridade e, muito menos, de desprezo. Enquanto estivermos cultuando os valores de uma sociedade machista e preconceituosa nunca iremos sair do estado de barbárie. Não adiantar se gloriar em ser no futuro a quinta maior economia do mundo se o nosso povo não souber conviver com o diferente.