sexta-feira, 27 de maio de 2011

Por onde vagueia minha alma


Acabei de acordar de um sonho atordoado. Uma realidade fantástica que jamais vivenciei em meu estado de vigília. Sonhei que estava dentro de um ônibus, sentado, cercado por pessoas que nunca havia visto em minha vida. Eram rostos estranhos, mas felizes, pois estávamos reunidos e dialogando sobre a vida e sobre nosso encontro. Parecia que éramos da mesma cidade, porém, jamais tivemos reunidos a não ser naquele sonho. Olhei para cada rosto e não havia visto se quer um na minha vida, mas conversávamos como antigos amigos.

Estávamos em outra cidade correndo atrás dos nossos sonhos, comentando sobre como esquecemos fatos do nosso dia a dia e, justamente, o meu fato de ter se esquecido de ir a um compromisso. Alguns riam dos meus comentários, outros me chamavam de louco e acabavam concordando com a minha insanidade. O estranho que havia pessoas portadoras de necessidades especiais, no caso, mudos, porém, interagiam com nossa conversa. Tínhamos algo em comum. Todos sem exceção de algum. Queríamos ser felizes. Coisa que não poderia acontecer em nossas cidades naturais.

O ônibus passava por ruas que jamais tinha ido. Era estranho, mas ao mesmo tempo, fantástico! Incrível como nossos sonhos não fazem ir a locais jamais antes idos; a conhecer pessoas que jamais iremos conhecer pessoalmente. Isto se for um sonho! Alguns místicos acreditam que nossas almas vagueiam por um mundo infinito ao encontro de nossas almas gêmeas, de pessoas que conviveram conosco em vidas passadas e que nesta, estávamos separadas. Não sei se é verdade. Porém, acredito que nunca me senti tão intimo daquelas pessoas.

Entretanto, logo tive que se separar dos demais. Uma voz dizia para eu voltar. Assim, desapareci de dentro do ônibus e acordei deitado na minha cama, suado e com uma enorme tristeza no peito. Sentia-se vazio por não saber se irei reencontrá-los mesmo sendo em sonho. Estranho, pois nunca senti tão vazio após um sonho. Quantas pessoas eu conheci no mundo real e que se quer sentir tanta dor ao se despedir. A vida é cheia de encontros e desencontros e, pelo visto, nossos sonhos também! Não sou estudioso de sonhos e não recorro a interpretações deles; mas diante de uma reflexão irei encontrar a resposta para este sonho. Nada é por acaso em nossas vidas. Muito menos nossos sonhos, posto que eles são feitos da matéria do nosso dia a dia; da nossa vivencia diária.

Estou confuso, não sei onde é realidade onde é fantasia; Se a experiência que vivenciei era sonho ou um encontro de almas. Não sei! A única coisa que gostaria neste momento era poder voltar e reencontrar com estas pessoas. Poder terminar o inacabado e, principalmente, sorrir. Posto o que é a vida, senão o prazer de tê-la com um sorriso nos lábios e a alma transbordando de alegria?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quem disse que a vida é breve


Quem disse que a vida é breve? Breve são os nossos sonhos. Breves e limitados! Achamos que a vida se resume a nascer, crescer, reproduzir e morrer. E, nossos sonhos, onde ficam? Há quem diga que aqueles que vivem suas vidas intensamente são seres delirantes; sem perspectivas de vida! Será que viver é trabalhar para que um dia na velhice possas se aposentar? Do que adianta os estudos, anos e anos de dedicação ao acumulo de conhecimentos se não conseguimos aprender a viver, a conviver?

Nada é mais sagrado do que viver. Será que estamos vivendo? Quanto tempo dedicamos a nos conhecer? Quanto tempo temos para saborear a vida que Deus nos deu de presente? Será que temos alguns segundos para contemplar o mundo a nossa volta? Mal nascemos e já queremos fazer parte do mundo; melhor, de um mundo sem tempo! Crescemos sonhando com o futuro. Quer-se temos a oportunidade de ser criança. Temos que crescer! Crescer para conquistar o mundo; mundo este feito de bens materiais.

Queremos dinheiro, status, amigos, uma vida estável. Será que tudo isto vale a pena? Será que somos felizes com o que temos? Carro, dinheiro, amigos, emprego. E, a nossa felicidade, onde se encontra nesta lista? Para alguns ter dinheiro e desfrutar dele é conquistar a felicidade. Então, me digas como um morador de rua pode ser feliz sem o nada? Será que a vida dele é infeliz? Parece estranho, mas quanto mais queremos fazer parte do mundo; menos este mundo nos pertence! Queremos agarrá-lo, prendê-lo entre nossas mãos; porém, é em vão, não podemos ter o mundo. Temos que nos contentar as migalhas de um mundo.

Existem pessoas com o nada conseguem ter um sorriso no rosto; já outros, com o tudo, não conseguem ser felizes. Então, qual a receita da felicidade? Será que existe mesmo? Ora! Não existe segredo: basta viver! Não há nada mais feliz do que podermos viver de acordo com nossos sonhos, desejos e projetos. Nada mais angustiante do que vivermos em função dos outros. Ter que dar satisfação a sociedade é sem dúvida o pior cativeiro que nós somos condenados a conviver.

Muitos de nós deixamos de viver as nossas vidas para viver a vida que os outros sonham e desejam para nós. Será que estas vidas que os outros planejam para nós é a que sonhamos ter? Não! Entretanto, não é fácil libertar-se das amarras que o mundo nos prende. Contudo, não podemos baixar a cabeça e achar que tudo está perdido. Podemos nos libertar e viver os nossos sonhos, as nossas vidas. É um desafio! Infelizmente, são poucas pessoas que se dedicam a seguir suas vidas de acordo com seus princípios e vontade. Quando estas pessoas conseguem viver suas vidas; o mundo se revolta contra elas. Claro! Temos que seguir os costume e regras que somos, educadamente, obrigados a seguir.

Será que compensa desafiar o mundo para vivermos de acordo com nossas vidas? Sim! Não há valores; não há bens; não há pessoas que possam pagar por nossas felicidades. Têm-se uma só vida, porque não aproveitá-la? Tudo na vida passa e não podemos deixar que nossas vidas também possam seguir os trilhos do tempo sem ao menos senti-la. Temos que fincar os pés no chão, calar-se e escutar a voz sábia do coração. Fechar os olhos e contemplar o mundo: o nosso mundo interior. Este sim é o mundo mais belo que podemos ver e que não podemos deixá-lo esmaecer sem ao menos ousar; voar por lugares que antes seria impossível estar.

Dizem que na vida tudo tem seu preço. Do que adianta pagar um preço alto e não sermos felizes? Correr riscos é uma das missões que desde quando nascemos somos lançados a percorrer. E, por que não sermos felizes? Se a vida é breve por que não vivê-la? Já dizia Cazuza: “Vida louca vida. Vida breve! Já que eu não posso te levar, quero que você me leve! Vida louca vida. Vida imensa! Ninguém vai nos perdoar, nosso crime não compensa!”. Do que adianta querer o futuro se o presente não conseguimos viver. O amanhã só nasce depois de uma noite e, a noite só surge depois de um belo dia. Temos tempo para tudo nesta vida; até pra sermos nós mesmos. Temos a oportunidade de sermos felizes. Basta querermos!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Saudades


Um dia fui criança a olhar o mundo pela janela da minha casa. Contemplava a paisagem bucólica do meu bairro. Nasci e convivi num mundo simples e, ao mesmo tempo, rico de sonhos. Como era bom ser criança! Brincar, correr, sonhar e rir do mundo que foi criado especialmente para cada um de nós. Cada dia, ao abrir a janela da minha vida, o mundo se transformava e eu me transformava com ele. Vi crescer o meu mundo; meu bairro já não era o mesmo de outrora. De uma paisagem, quase rural, a um bairro periférico como muitos espalhados pelo mundo afora.
Lembro-me da terra nos meus pés; do meu corpo suado correndo sob o sol quente. Quantas risadas foram dadas junto com meus amigos daquela época. Desbravar o mundo era a nossa meta e os sonhos eram algo distante, mas que queríamos conquistar. Quantas vezes ao cair uma gota de chuva na terra não saíamos correndo. Querendo sentir no corpo a alegria de ser criança. Como era maravilhoso tomar banho de chuva com meus amigos... Nem sempre, ao chegar as nossas casas, nossas atitudes eram compreendidas. Muitas vezes éramos castigados e, mesmo assim, nada tirava dos nossos rostos a alegria de viver.
O tempo foi passando. Fui crescendo. As brincadeiras já eram outras e os sonhos também. Entretanto, para cada sonho um desafio a ser travado. Quantos de nós, sentados nas calçadas, faziam planos para o futuro. Queríamos ser alguém na vida. Um bom emprego; um bom salário; ser gente era tudo o que sonhávamos. Estudar era a minha meta. Não queria seguir os mesmos passos de muitos; queria romper o destino traçado pelo mundo desumano.
Das brincadeiras de ruas a movimentos sociais. Era preciso lutar por um mundo melhor. Precisávamos de ruas calçadas; de obras de infraestrutura. Como eram divertidas as reuniões dos grupos de jovens e da associação de moradores. Nem sabia que estava formando o meu ser social; queria, somente, mudar a minha realidade e dos demais moradores. O mundo inspirava outros sentimentos. Era a descoberta da sexualidade. Como eram tão inocentes as cartinhas de amor. Quantas juras de amor não foram ditas? Estávamos crescendo. Nossos corpos não eram os mesmos. A voz já estava mudada e o mundo adulto estava preste a chegar. Alguns amigos se perderam no caminho. Tiveram outros destinos. Culpa deles? Não acho! Com o mundo adulto; outros obstáculos foram surgindo. Queríamos ser adultos. Para sermos adultos, muitos quiseram imitar o comportamento e atitudes dos adultos. Triste realidade! O mundo adulto não era um sonho; era um pesadelo! Drogas, sonhos desfeitos, miséria. Vidas rompidas pela fragilidade de um mundo construído pelas aparências.
Não brincávamos na rua correndo, pulando... O mundo adulto tinha e tem suas próprias brincadeiras. Agora é necessário brincar de ser, de ter e de poder. O mundo não é tão bondoso como havíamos sonhado; ele é cruel. Sobreviver é a lei para sucesso. Pergunto: cadê meus amigos de infância? Não sei! Sumiram? O destino tratou de separar-nos. Eles ficaram no passado; presos na vida sem sonhos. Alguns se tornaram pais e mães muito jovens. Outros as drogas tratou de sucumbi-los. Além daqueles que se tornaram cegos e não me enxergam ao passar na rua. Cada um com suas vidas e seus destinos. Embora, muitos tenham apagados da memória, creio eu, ainda resta lembranças de uma vida simples, porém, feliz.
Sinto saudades da minha infância; dos meus amigos; da vidinha que levava. Sempre quando a saudade invade minha alma fecho os meus olhos e voo em direção a minha janela e contemplo a paisagem do meu antigo bairro que hoje é completamente diferente das minhas lembranças. Escuto as risadas, as falas dos meus amigos. Seus rostos, embora turvos, projetam-se na minha mente. Ah! Meu ser transborda de alegria ao recordar meu passado. Realmente, fui ousado a sonhar e lutar pelos meus objetivos. Vivenciei cada fase da minha vida intensamente, de tal forma, que hoje percebo que fui feliz e não sabia ou imaginava que não era. As dores e as feridas do passado já se cicatrizaram. As lágrimas que antes invadiam meu rosto pela dor da luta de tentar ser feliz aos poucos somem do meu rosto e dá lugar a felicidade.
Gostaria muito de voltar ao passado e reunir todos que fizeram parte da minha vida. Que pena que é impossível. Alguns não estão mais presentes de corpo; somente de alma. Outros se perderam neste enorme mundo que no passado não imaginava existir, pois meu mundo se resumia ao meu bairro, a minha rua. O que eu sei, é que jamais irei esquecer. Eu me prendo a estas lembranças e invento outras para sobreviver. Tornando minha vida menos solidão. Resta-me perguntar: por que o destino separa vidas? Uma pergunta sem resposta. Enfim, o tempo passou; deixou saudades. Marcas de uma vida vivenciada intensamente.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma ilusão de vida

Estive a pensar sobre a vida, precisamente sobre idade, durante a viagem de Teresina a Picos. Durante a viagem sentou do meu lado um senhor de setenta e poucos anos de idade. No início, senti incomodado pela presença do senhor, preferia ficar sozinho. Contudo, aquele senhor fez pensar sobre o tempo, a idade, a vida. Era um senhor com expressões faciais marcantes. Pelas marcas no rosto verificava que se tratava de um senhor que há muito tempo dedicava-se a lavoura. Olhei suas mãos, braços, rosto; observei cada detalhe da sua aparência física. De repente, minha mente ardilosa, colocou-me no lugar deste senhor. Senti vivenciar aquelas características, aquela idade, senti-me no lugar do senhor.
A sensação foi terrível. Não era nada confortável sentir velho. Aos poucos uma dor desoladora invadia meu peito. Uma angustia gritava: não quero viver para chegar a este ponto. Percebi que não estou preparado para envelhecer. Sei que nascemos para morrer. Porém, a sensação de proximidade da morte é trágica. Mil pensamentos vêm à tona: as frustrações, os planos, o futuro não vivenciado, enfim, as idéias são mescladas com dor e vazio. Realmente, o tempo passa para todos. Não há nada que o impede de parar.
Olhei para minhas mãos, senti ásperas e enrugadas. Toquei meu rosto, senti as marcas da vida. Não sou a mesma pessoa de uns anos atrás. Cresci e estou envelhecendo. Virei meu rosto e visualizei-o projetado no vidro da janela do ônibus. Fiquei me contemplando por uns minutos. Olhei cada detalhe. Aos poucos meus olhos não só enxergava o meu rosto, como a minha alma. Visualizei um ser triste, indeciso, conflituoso. Enquanto, contemplava o rosto da minha alma, a paisagem passava como se fosse um filme em velocidade aumentada. Fechei meus olhos e tentei imaginar como seria minha vida daqui uns dez a vinte anos. Não consegui. Mentira, consegui! Ao tempo que aparecia uns “flashes”, minha consciência apagava. Era cruel por demais vivenciar minha velhice. Não sei os motivos, posso até saber inconscientemente, mas visualizei-me sozinho, numa casa fria e escura, esperando a morte chegar.
Certamente meu presente não tem sido fácil. Passei e continuo passando por várias provações. Minha vida se resume em fases, momentos. Quando estou aprendendo a engatinhar, a vida ceifa meus planos e sou obrigado a iniciar do zero. Nunca consigo terminar, finalizar o que começo; tudo acaba com uma sensação de dever não cumprido. Quando estou aprendendo algo, conhecendo algo, tenho que deixar o "algo" para trás. Dói ter que abrir mão daquilo que estou conquistando. Não consigo dizer “até breve”, muito menos “adeus”, sem me machucar, sem sofrer demasiadamente.
Hoje, tenho a certeza que na vida tudo é fragmento, uma realidade tão fugaz que ao menor toque desaparece entre as mãos como uma nuvem de ilusões. Não existe luz, não existe esperança. Tudo é fantasia. Não podemos voltar e refazer o passado; muito menos, fazer aquilo que não foi feito. Nem sempre “as pedras” se encontram novamente. Cada segundo de nossas vidas é único; nunca poderemos tê-lo novamente. O tempo passa; a idade avança e nossos corpos sucumbem com eles. Não sei como será meu amanhã quando acordar; muito menos, saberei se irei acordar

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Compra-se cidadania

No supermercado da vida vendem-se de tudo: liberdade; respeito; dignidade; entre outros artigos de necessidades básicas para exercermos a cidadania de fato. Quem pode pagar? Quanto custa cada um destes artigos? Milhares de brasileiros estão vendendo essas preciosas mercadorias por míseros reais. Será culpa da lei da oferta e da procura? Creio que não! A culpa de estamos nos vendendo a preço de “banana” é resultado do comodismo a qual estamos acostumados. Nós brasileiros sempre tivemos a fama de deixar tudo para última hora e agora, mais do que nunca, estamos sendo vítimas de uma doença grave que se chama passividade.

Deixamos de lutar pelos nossos direitos, direitos estes que ceifaram muitas vidas no passado. Tem-se uma das melhores e perfeitas Carta Magna, a Constituição Federal, graças à luta de uma sociedade que se rebelaram e lutaram por melhores condições de vida. Hoje, pleno século XXI, ainda convive-se com o trabalho escravo, a miséria, a fome, a falta de água e muitos outros que ferem a nossa Constituição. Somos escravos de um sistema cruel, que embora nocivo, se faz necessário para mantermos a economia funcionando. Uma sociedade justa e igualitária, onde todos pudessem gozar de todos os bens e serviços se tornou algo utópico. Quem irá lutar por nós, se não formos nós mesmos?

Entra governo e sai governo. Políticas e mais políticas publicas são criadas a fim de minimizar as nossas mazelas, entretanto, essas políticas não passam e, creio eu, não passaram de políticas assistencialistas reducionistas que dão as camadas populares o “pão e o circo” em troca do conformismo. O Brasil não é o mesmo! Reduzimos a pobreza. Muitos estão consumindo bens e serviços que outrora não podia. Será mesmo? Será que tudo mudou e que saímos das trevas e atingimos a luz? Não! Nada mudou, continuamos tendo nossas vidas miseráveis, contudo, já não mais reclamamos por isto. Hoje temos a “bolsa vale-tudo”. Graças a esta bolsa que estamos saindo do caos do terceiro mundo ao primeiro mundo. Será?

Será que essa quantia que recebemos dá pra custear nossas necessidades básicas? Será que podemos ter acesso a saúde; a educação de qualidade; ao lazer; a alimentação; ao trabalho; a habitação; enfim; poderemos exercer nossa cidadania com este valor pago pela “Bolsa vale-tudo”? Não! Não paga e nunca pagará, entretanto, nos calam e nos fazem se conformar com nossa precária vida. É a grande lei da política brasileira: concedo esse beneficio e ficarás quieto no seu canto. Se parássemos para pensar quantos de nós brasileiros estamos à mercê de migalhas. Hoje encontramos numa situação em que não queremos mais ousar, gritar, lutar para não perder as migalhas que recebemos. Muitos já perderam e muitos outros perderão a sua dignidade como pessoa humana em troca de favores e míseros reais. Será que vale a pena vendermos nossa cidadania por tão pouco? Muitos de nós, já perdemos o prazer de sonhar; estamos vegetando e, pior, conformados e alegres com esta situação desoladora.

Um tempo atrás escutei que deixaríamos de receber o “peixe” e aprenderíamos a pescar nosso próprio “peixe”. Quem de nós aprendeu a pescar? Quem de nós quer pescar? Muitos brasileiros não querem pescar e muito menos aprender a pescar. Querem os farelos do assistencialismo. Triste realidade: farelo não sacia a fome; só engana! Para que quero pescar se posso ter o peixe na minha mesa? Será que esse peixe é o suficiente para saciar nossa família? Será que esse peixe durará até o fim do mês? Com certeza, não. Porém, é o que temos para hoje! E amanha o que teremos?

Nunca nos meus poucos anos de consciência social presenciei tanto conformismo como estou vivenciando nesses últimos anos. Sinto uma dor profunda ao saber que muitos brasileiros estão vendendo seus valores, suas ideias, suas vidas por tão pouco. Doe em saber que apesar da fome, da miséria, da falta de esperança de um futuro melhor muitos preferem ficar com a “Bolsa vale-tudo” e se conformar com a situação em qual se encontram. Doe, sangra por dentro ao saber que perdemos a consciência de si e de sociedade e que nosso futuro resume-se a ir uma vez ao mês ao banco da vida e sacar os míseros reais da “bolsa vale-tudo”.

Sonhei tanto com um Brasil para todos, onde pudéssemos usufruir de todos os bens e serviços para que pudéssemos exercer nossa cidadania. Pobre de mim; a realidade é outra. Estamos vendendo nossa cidadania no supermercado chamado política assistencialistas por um preço tão barato que resta contentar-se com o nosso feijão com farinha de cada dia. Se não sacia nossa fome, pelo menos, calam nossa barriga (consciência). Desculpa-me, mas não estou à venda e por mais difícil que seja aprender a pescar; prefiro pescar. Minha cidadania não tem preço e mesmo que tivesse não a venderia por nada. Quero a liberdade de ser, de ir, de pensar e gostaria muito que todos os brasileiros tivessem o mesmo pensamento. Enquanto isto, não acontece, no mercado da vida não me venderei.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Uma folha seca levada pelo vento








Nunca estive tão vazio como estou ultimamente. Muitas coisas aconteceram em minha vida de uns anos para cá e que me fizeram entender o sentido da vida. Sei que sou apenas um aprendiz, porém, não consegui se quer dar os primeiros passos a liberdade. Sou um escravo do meu medo. Não consigo ser livre por inteiro. Estou preso ao passado; passado este que me causa pesadelos e angustias.

Quando era mais jovem sonhava com um mundo fantástico e este mundo nunca existiu. Contentei-me com as migalhas de uma vida que recebia em conta-gotas e achava que era o melhor presente que a vida pudesse me dar. Hoje essas migalhas não alimentam meu ser. Sinto fome. Tenho vertigens. Anseio novo ares. Quero sair sem destino. Entretanto, minhas asas estão cortadas e, mesmo que não as tivessem, não conseguiria voar: não aprendi a voar.

Sinto-me áspero, frágil e sem vida. Uma verdadeira folha seca. Desprendi da árvore da vida e estou sendo levado pelo vento. Não sei o meu destino e nem para onde estou sendo levado. Sinto o gracioso toque do ar na minha pele. Isto me conforta. Contudo, não sei o certo o que o futuro me reserva. Como uma folha seca posso ser quebrada, amassada ou até mesmo pousar sobre a terra.

Será que teremos uma finalidade ao fim da vida? Eu sei que as folhas têm suas sentenças ao se desprenderem de suas árvores; muita delas irá fertilizar os solos do mundo. Será que como folha, eu também irei ter um destino tão maravilho de fertilizar os solos das almas humanas? Mais do que adubar as almas do mundo; necessito fertilizar meu ser, posto que se encontre infértil.

Sinto que o mundo perdeu seu real sentido; as pessoas tornaram-se devastadora de solos humanos. Insensíveis as dores do mundo. Cada ser ver seu eu no espelho do egoísmo. Enquanto o mundo duela pela ganância da sobrevivência; eu continuo sendo levado pelo vento como uma folha seca. Sem destino; sem certezas; sem vida. Como uma folha seca, sinto que estou prestes a sucumbir na secura da vida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Amor à pátria?




Estamos vivenciando um clima de Copa do Mundo. Cada Nação empenha-se para demonstrar a devoção a sua seleção de futebol; como se fosse o símbolo máximo respresentativo do Estado e, o nosso Brasil não foge à regra. Em cada cantinho deste país existem demonstrações de amor à Pátria. Porém, essa devoção é ao Estado brasileiro ou a um time de futebol?
Com certeza, os sentimentos afloram em épocas de grandes competições. Em tempos de guerras as nações empenham-se em colocar todo seu poderio bélico em ação. Aquela nação que tiver as mais modernas e eficientes armas e estratégias de guerra vence a batalha. Da mesma maneira, podemos observar em um campeonato esportivo mundial: a equipe que tiver os melhores jogadores e táticas de jogo será a campeã.
Não existe nada mais agradável para o ego de um patriota do que saber que o seu Estado é considerado parâmetro para os demais. Quem nunca se orgulhou de ser brasileiro? Quem nunca se orgulhou de vestir uma camiseta verde-amarelo? Quem nunca se emocionou com o hasteamento da Bandeira Nacional? Com certeza, todos nós em algum momento de nossas vidas sentiu orgulho de ser brasileiro.
Contudo, chamo à atenção! Quais os momentos que sentimos orgulho de ser brasileiro? De que forma expressamos nossa nacionalidade? Se pudéssemos viajar pelo Brasil afora perceberemos quem em diversos locais encontram-se a cor verde-amarelo; nas suas diversas formas, quer seja no próprio uso da Bandeira Nacional, quer no uso de uma simples camiseta. O mundo gira em torno da Copa do Mundo na África do Sul e o Brasil busca incessantemente acompanhar os passos da seleção brasileira de futebol.
Aquela bandeira empoeirada que estava guardada no fundo da gaveta é sacudida e hasteada. Queremos demonstrar nosso amor à Nação. Tudo gira em torno do amor à Pátria. A mídia veicula diversas formas de demonstração do nacionalismo. De certa forma, somos “obrigados” a vestir as cores da nação e gritar em um só coro que somos brasileiros. Será que realmente somos brasileiros ou é só mais uma ideologia assimilada?
Enquanto preparamos nosso lares e nossas vidas para defender o nosso nacionalismo durante a Copa do Mundo; nossas mazelas são engavetadas no fundo da obscuridade do esquecimento. Para que pensar em pobreza, violência, corrupção e tantas outras coisas se o que mais importa é a nossa seleção ser campeã! O Brasil pára quando entra a seleção de futebol em campo. A economia deixa de arrecadar milhares e milhares de reais durante alguns minutos de partida de futebol. E, nada mais comum, para um típico brasileiro que o absenteísmo no trabalho.
Nunca um povo demonstrou tanta devoção em um período que não seja em Copa do Mundo. É a máxima da expressão do nacionalismo. Será que teríamos a mesma comoção para lutar pelos direitos coletivos? Será que gritaríamos nas ruas que somos brasileiros quando no Congresso Nacional aprova medidas que beneficiam a classe dominante? Será que vestiríamos uma camiseta nas cores da Bandeira Nacional para demonstrar que somos brasileiros mesmo sabendo que nossa Nação é corrupta e que não serve de parâmetro para nenhum outro país? Será teríamos tanta devoção se a seleção de futebol não estivesse participando de um campeonato de futebol mundial?
Muitos de nós, não entendemos os significados das palavras patriotismo e nacionalismo e, por muitas vezes, confundimos e achamos que ambas palavras são sinônimos. O patriotismo é o sentimento de amor, devoção ou dedicação à pátria, aos seus símbolos. Já o nacionalismo é uma ideologia, que levam as pessoas a serem patriotas. Nem sempre quando somos patriotas estamos sendo nacionalista. Nosso patriotismos pode está restrito a um objeto, a uma circunstância ou a um determinado tempo. Existem diferentes tipos de patriotismo, de patriotas e diferentes maneiras de mostrar o patriotismo. Um exemplo clássico é o patriotismo nos desportos: há grande parte da população que tem orgulho de sua pátria quando ela está representada por atletas em competição.
Infelizmente, nosso povo resume o patriotismo ao desporto. Nem sempre mostramos o nosso amor ao Estado a não ser em campeonatos. E, esse patriotismo dura enquanto somos vitoriosos. A partir do momento que somos derrotados, as cores nacionais ficam desbotadas; as bandeiras hasteadas são devolvidas aos fundos das gavetas e armários; a camiseta que transmitia orgulho, agora causa vergonha. Enfim, deixamos de ser brasileiros.
Triste realidade, amarga e cruel. Cadê o nacionalismo? Cadê o patriotismo de outrora? Quem irá sentir orgulho de uma nação não vitoriosa, cheia de problemas sociais? Somente depois de uma desilusão é que enxergamos os defeitos de nossa Pátria. Se pudéssemos, com certeza, mudaríamos de nacionalidade, de país. Nosso patriotismo torna-se volúvel, fugaz.
Não tenho a intenção de pregar o fim do patriotismo ao desporto, mas queria muito ver/sentir toda essas mobilizações em apoio a seleção brasileira de futebol também nos movimentos sociais. Queria escutar o grito ensurdercedor de gol nos protestos em defesa da vida humana. Gostaria de ver o Brasil pára alguns minutos para dedicar-se aos excluídos. Gostaria de ver a Nação lutando por uma sociedade mais justa e livre. Gostaria de ver em cada coração as cores da Nação e o orgulho de ser brasileiro, mesmo sabendo que não somos vitoriosos, mas que temos a vontade de transformar tudo a nossa volta.
Podemos sim, ser brasileiro e mostrar nosso patriotismo; pois, nosso maior símbolo e o qual deveríamos ter devoção chama-se “povo brasileiro”. É para o nosso povo que devemos mobilizar-se, gritar, vestir a camiseta verde-amarelo em todas as suas nuanças. Não somente nos campeonatos esportivos, mas em todas circunstâncias. Só assim, poderíamos de fato mostrar nosso amor à Pátria
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