quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Compra-se cidadania

No supermercado da vida vendem-se de tudo: liberdade; respeito; dignidade; entre outros artigos de necessidades básicas para exercermos a cidadania de fato. Quem pode pagar? Quanto custa cada um destes artigos? Milhares de brasileiros estão vendendo essas preciosas mercadorias por míseros reais. Será culpa da lei da oferta e da procura? Creio que não! A culpa de estamos nos vendendo a preço de “banana” é resultado do comodismo a qual estamos acostumados. Nós brasileiros sempre tivemos a fama de deixar tudo para última hora e agora, mais do que nunca, estamos sendo vítimas de uma doença grave que se chama passividade.

Deixamos de lutar pelos nossos direitos, direitos estes que ceifaram muitas vidas no passado. Tem-se uma das melhores e perfeitas Carta Magna, a Constituição Federal, graças à luta de uma sociedade que se rebelaram e lutaram por melhores condições de vida. Hoje, pleno século XXI, ainda convive-se com o trabalho escravo, a miséria, a fome, a falta de água e muitos outros que ferem a nossa Constituição. Somos escravos de um sistema cruel, que embora nocivo, se faz necessário para mantermos a economia funcionando. Uma sociedade justa e igualitária, onde todos pudessem gozar de todos os bens e serviços se tornou algo utópico. Quem irá lutar por nós, se não formos nós mesmos?

Entra governo e sai governo. Políticas e mais políticas publicas são criadas a fim de minimizar as nossas mazelas, entretanto, essas políticas não passam e, creio eu, não passaram de políticas assistencialistas reducionistas que dão as camadas populares o “pão e o circo” em troca do conformismo. O Brasil não é o mesmo! Reduzimos a pobreza. Muitos estão consumindo bens e serviços que outrora não podia. Será mesmo? Será que tudo mudou e que saímos das trevas e atingimos a luz? Não! Nada mudou, continuamos tendo nossas vidas miseráveis, contudo, já não mais reclamamos por isto. Hoje temos a “bolsa vale-tudo”. Graças a esta bolsa que estamos saindo do caos do terceiro mundo ao primeiro mundo. Será?

Será que essa quantia que recebemos dá pra custear nossas necessidades básicas? Será que podemos ter acesso a saúde; a educação de qualidade; ao lazer; a alimentação; ao trabalho; a habitação; enfim; poderemos exercer nossa cidadania com este valor pago pela “Bolsa vale-tudo”? Não! Não paga e nunca pagará, entretanto, nos calam e nos fazem se conformar com nossa precária vida. É a grande lei da política brasileira: concedo esse beneficio e ficarás quieto no seu canto. Se parássemos para pensar quantos de nós brasileiros estamos à mercê de migalhas. Hoje encontramos numa situação em que não queremos mais ousar, gritar, lutar para não perder as migalhas que recebemos. Muitos já perderam e muitos outros perderão a sua dignidade como pessoa humana em troca de favores e míseros reais. Será que vale a pena vendermos nossa cidadania por tão pouco? Muitos de nós, já perdemos o prazer de sonhar; estamos vegetando e, pior, conformados e alegres com esta situação desoladora.

Um tempo atrás escutei que deixaríamos de receber o “peixe” e aprenderíamos a pescar nosso próprio “peixe”. Quem de nós aprendeu a pescar? Quem de nós quer pescar? Muitos brasileiros não querem pescar e muito menos aprender a pescar. Querem os farelos do assistencialismo. Triste realidade: farelo não sacia a fome; só engana! Para que quero pescar se posso ter o peixe na minha mesa? Será que esse peixe é o suficiente para saciar nossa família? Será que esse peixe durará até o fim do mês? Com certeza, não. Porém, é o que temos para hoje! E amanha o que teremos?

Nunca nos meus poucos anos de consciência social presenciei tanto conformismo como estou vivenciando nesses últimos anos. Sinto uma dor profunda ao saber que muitos brasileiros estão vendendo seus valores, suas ideias, suas vidas por tão pouco. Doe em saber que apesar da fome, da miséria, da falta de esperança de um futuro melhor muitos preferem ficar com a “Bolsa vale-tudo” e se conformar com a situação em qual se encontram. Doe, sangra por dentro ao saber que perdemos a consciência de si e de sociedade e que nosso futuro resume-se a ir uma vez ao mês ao banco da vida e sacar os míseros reais da “bolsa vale-tudo”.

Sonhei tanto com um Brasil para todos, onde pudéssemos usufruir de todos os bens e serviços para que pudéssemos exercer nossa cidadania. Pobre de mim; a realidade é outra. Estamos vendendo nossa cidadania no supermercado chamado política assistencialistas por um preço tão barato que resta contentar-se com o nosso feijão com farinha de cada dia. Se não sacia nossa fome, pelo menos, calam nossa barriga (consciência). Desculpa-me, mas não estou à venda e por mais difícil que seja aprender a pescar; prefiro pescar. Minha cidadania não tem preço e mesmo que tivesse não a venderia por nada. Quero a liberdade de ser, de ir, de pensar e gostaria muito que todos os brasileiros tivessem o mesmo pensamento. Enquanto isto, não acontece, no mercado da vida não me venderei.

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