segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma ilusão de vida

Estive a pensar sobre a vida, precisamente sobre idade, durante a viagem de Teresina a Picos. Durante a viagem sentou do meu lado um senhor de setenta e poucos anos de idade. No início, senti incomodado pela presença do senhor, preferia ficar sozinho. Contudo, aquele senhor fez pensar sobre o tempo, a idade, a vida. Era um senhor com expressões faciais marcantes. Pelas marcas no rosto verificava que se tratava de um senhor que há muito tempo dedicava-se a lavoura. Olhei suas mãos, braços, rosto; observei cada detalhe da sua aparência física. De repente, minha mente ardilosa, colocou-me no lugar deste senhor. Senti vivenciar aquelas características, aquela idade, senti-me no lugar do senhor.
A sensação foi terrível. Não era nada confortável sentir velho. Aos poucos uma dor desoladora invadia meu peito. Uma angustia gritava: não quero viver para chegar a este ponto. Percebi que não estou preparado para envelhecer. Sei que nascemos para morrer. Porém, a sensação de proximidade da morte é trágica. Mil pensamentos vêm à tona: as frustrações, os planos, o futuro não vivenciado, enfim, as idéias são mescladas com dor e vazio. Realmente, o tempo passa para todos. Não há nada que o impede de parar.
Olhei para minhas mãos, senti ásperas e enrugadas. Toquei meu rosto, senti as marcas da vida. Não sou a mesma pessoa de uns anos atrás. Cresci e estou envelhecendo. Virei meu rosto e visualizei-o projetado no vidro da janela do ônibus. Fiquei me contemplando por uns minutos. Olhei cada detalhe. Aos poucos meus olhos não só enxergava o meu rosto, como a minha alma. Visualizei um ser triste, indeciso, conflituoso. Enquanto, contemplava o rosto da minha alma, a paisagem passava como se fosse um filme em velocidade aumentada. Fechei meus olhos e tentei imaginar como seria minha vida daqui uns dez a vinte anos. Não consegui. Mentira, consegui! Ao tempo que aparecia uns “flashes”, minha consciência apagava. Era cruel por demais vivenciar minha velhice. Não sei os motivos, posso até saber inconscientemente, mas visualizei-me sozinho, numa casa fria e escura, esperando a morte chegar.
Certamente meu presente não tem sido fácil. Passei e continuo passando por várias provações. Minha vida se resume em fases, momentos. Quando estou aprendendo a engatinhar, a vida ceifa meus planos e sou obrigado a iniciar do zero. Nunca consigo terminar, finalizar o que começo; tudo acaba com uma sensação de dever não cumprido. Quando estou aprendendo algo, conhecendo algo, tenho que deixar o "algo" para trás. Dói ter que abrir mão daquilo que estou conquistando. Não consigo dizer “até breve”, muito menos “adeus”, sem me machucar, sem sofrer demasiadamente.
Hoje, tenho a certeza que na vida tudo é fragmento, uma realidade tão fugaz que ao menor toque desaparece entre as mãos como uma nuvem de ilusões. Não existe luz, não existe esperança. Tudo é fantasia. Não podemos voltar e refazer o passado; muito menos, fazer aquilo que não foi feito. Nem sempre “as pedras” se encontram novamente. Cada segundo de nossas vidas é único; nunca poderemos tê-lo novamente. O tempo passa; a idade avança e nossos corpos sucumbem com eles. Não sei como será meu amanhã quando acordar; muito menos, saberei se irei acordar

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Compra-se cidadania

No supermercado da vida vendem-se de tudo: liberdade; respeito; dignidade; entre outros artigos de necessidades básicas para exercermos a cidadania de fato. Quem pode pagar? Quanto custa cada um destes artigos? Milhares de brasileiros estão vendendo essas preciosas mercadorias por míseros reais. Será culpa da lei da oferta e da procura? Creio que não! A culpa de estamos nos vendendo a preço de “banana” é resultado do comodismo a qual estamos acostumados. Nós brasileiros sempre tivemos a fama de deixar tudo para última hora e agora, mais do que nunca, estamos sendo vítimas de uma doença grave que se chama passividade.

Deixamos de lutar pelos nossos direitos, direitos estes que ceifaram muitas vidas no passado. Tem-se uma das melhores e perfeitas Carta Magna, a Constituição Federal, graças à luta de uma sociedade que se rebelaram e lutaram por melhores condições de vida. Hoje, pleno século XXI, ainda convive-se com o trabalho escravo, a miséria, a fome, a falta de água e muitos outros que ferem a nossa Constituição. Somos escravos de um sistema cruel, que embora nocivo, se faz necessário para mantermos a economia funcionando. Uma sociedade justa e igualitária, onde todos pudessem gozar de todos os bens e serviços se tornou algo utópico. Quem irá lutar por nós, se não formos nós mesmos?

Entra governo e sai governo. Políticas e mais políticas publicas são criadas a fim de minimizar as nossas mazelas, entretanto, essas políticas não passam e, creio eu, não passaram de políticas assistencialistas reducionistas que dão as camadas populares o “pão e o circo” em troca do conformismo. O Brasil não é o mesmo! Reduzimos a pobreza. Muitos estão consumindo bens e serviços que outrora não podia. Será mesmo? Será que tudo mudou e que saímos das trevas e atingimos a luz? Não! Nada mudou, continuamos tendo nossas vidas miseráveis, contudo, já não mais reclamamos por isto. Hoje temos a “bolsa vale-tudo”. Graças a esta bolsa que estamos saindo do caos do terceiro mundo ao primeiro mundo. Será?

Será que essa quantia que recebemos dá pra custear nossas necessidades básicas? Será que podemos ter acesso a saúde; a educação de qualidade; ao lazer; a alimentação; ao trabalho; a habitação; enfim; poderemos exercer nossa cidadania com este valor pago pela “Bolsa vale-tudo”? Não! Não paga e nunca pagará, entretanto, nos calam e nos fazem se conformar com nossa precária vida. É a grande lei da política brasileira: concedo esse beneficio e ficarás quieto no seu canto. Se parássemos para pensar quantos de nós brasileiros estamos à mercê de migalhas. Hoje encontramos numa situação em que não queremos mais ousar, gritar, lutar para não perder as migalhas que recebemos. Muitos já perderam e muitos outros perderão a sua dignidade como pessoa humana em troca de favores e míseros reais. Será que vale a pena vendermos nossa cidadania por tão pouco? Muitos de nós, já perdemos o prazer de sonhar; estamos vegetando e, pior, conformados e alegres com esta situação desoladora.

Um tempo atrás escutei que deixaríamos de receber o “peixe” e aprenderíamos a pescar nosso próprio “peixe”. Quem de nós aprendeu a pescar? Quem de nós quer pescar? Muitos brasileiros não querem pescar e muito menos aprender a pescar. Querem os farelos do assistencialismo. Triste realidade: farelo não sacia a fome; só engana! Para que quero pescar se posso ter o peixe na minha mesa? Será que esse peixe é o suficiente para saciar nossa família? Será que esse peixe durará até o fim do mês? Com certeza, não. Porém, é o que temos para hoje! E amanha o que teremos?

Nunca nos meus poucos anos de consciência social presenciei tanto conformismo como estou vivenciando nesses últimos anos. Sinto uma dor profunda ao saber que muitos brasileiros estão vendendo seus valores, suas ideias, suas vidas por tão pouco. Doe em saber que apesar da fome, da miséria, da falta de esperança de um futuro melhor muitos preferem ficar com a “Bolsa vale-tudo” e se conformar com a situação em qual se encontram. Doe, sangra por dentro ao saber que perdemos a consciência de si e de sociedade e que nosso futuro resume-se a ir uma vez ao mês ao banco da vida e sacar os míseros reais da “bolsa vale-tudo”.

Sonhei tanto com um Brasil para todos, onde pudéssemos usufruir de todos os bens e serviços para que pudéssemos exercer nossa cidadania. Pobre de mim; a realidade é outra. Estamos vendendo nossa cidadania no supermercado chamado política assistencialistas por um preço tão barato que resta contentar-se com o nosso feijão com farinha de cada dia. Se não sacia nossa fome, pelo menos, calam nossa barriga (consciência). Desculpa-me, mas não estou à venda e por mais difícil que seja aprender a pescar; prefiro pescar. Minha cidadania não tem preço e mesmo que tivesse não a venderia por nada. Quero a liberdade de ser, de ir, de pensar e gostaria muito que todos os brasileiros tivessem o mesmo pensamento. Enquanto isto, não acontece, no mercado da vida não me venderei.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Uma folha seca levada pelo vento








Nunca estive tão vazio como estou ultimamente. Muitas coisas aconteceram em minha vida de uns anos para cá e que me fizeram entender o sentido da vida. Sei que sou apenas um aprendiz, porém, não consegui se quer dar os primeiros passos a liberdade. Sou um escravo do meu medo. Não consigo ser livre por inteiro. Estou preso ao passado; passado este que me causa pesadelos e angustias.

Quando era mais jovem sonhava com um mundo fantástico e este mundo nunca existiu. Contentei-me com as migalhas de uma vida que recebia em conta-gotas e achava que era o melhor presente que a vida pudesse me dar. Hoje essas migalhas não alimentam meu ser. Sinto fome. Tenho vertigens. Anseio novo ares. Quero sair sem destino. Entretanto, minhas asas estão cortadas e, mesmo que não as tivessem, não conseguiria voar: não aprendi a voar.

Sinto-me áspero, frágil e sem vida. Uma verdadeira folha seca. Desprendi da árvore da vida e estou sendo levado pelo vento. Não sei o meu destino e nem para onde estou sendo levado. Sinto o gracioso toque do ar na minha pele. Isto me conforta. Contudo, não sei o certo o que o futuro me reserva. Como uma folha seca posso ser quebrada, amassada ou até mesmo pousar sobre a terra.

Será que teremos uma finalidade ao fim da vida? Eu sei que as folhas têm suas sentenças ao se desprenderem de suas árvores; muita delas irá fertilizar os solos do mundo. Será que como folha, eu também irei ter um destino tão maravilho de fertilizar os solos das almas humanas? Mais do que adubar as almas do mundo; necessito fertilizar meu ser, posto que se encontre infértil.

Sinto que o mundo perdeu seu real sentido; as pessoas tornaram-se devastadora de solos humanos. Insensíveis as dores do mundo. Cada ser ver seu eu no espelho do egoísmo. Enquanto o mundo duela pela ganância da sobrevivência; eu continuo sendo levado pelo vento como uma folha seca. Sem destino; sem certezas; sem vida. Como uma folha seca, sinto que estou prestes a sucumbir na secura da vida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Amor à pátria?




Estamos vivenciando um clima de Copa do Mundo. Cada Nação empenha-se para demonstrar a devoção a sua seleção de futebol; como se fosse o símbolo máximo respresentativo do Estado e, o nosso Brasil não foge à regra. Em cada cantinho deste país existem demonstrações de amor à Pátria. Porém, essa devoção é ao Estado brasileiro ou a um time de futebol?
Com certeza, os sentimentos afloram em épocas de grandes competições. Em tempos de guerras as nações empenham-se em colocar todo seu poderio bélico em ação. Aquela nação que tiver as mais modernas e eficientes armas e estratégias de guerra vence a batalha. Da mesma maneira, podemos observar em um campeonato esportivo mundial: a equipe que tiver os melhores jogadores e táticas de jogo será a campeã.
Não existe nada mais agradável para o ego de um patriota do que saber que o seu Estado é considerado parâmetro para os demais. Quem nunca se orgulhou de ser brasileiro? Quem nunca se orgulhou de vestir uma camiseta verde-amarelo? Quem nunca se emocionou com o hasteamento da Bandeira Nacional? Com certeza, todos nós em algum momento de nossas vidas sentiu orgulho de ser brasileiro.
Contudo, chamo à atenção! Quais os momentos que sentimos orgulho de ser brasileiro? De que forma expressamos nossa nacionalidade? Se pudéssemos viajar pelo Brasil afora perceberemos quem em diversos locais encontram-se a cor verde-amarelo; nas suas diversas formas, quer seja no próprio uso da Bandeira Nacional, quer no uso de uma simples camiseta. O mundo gira em torno da Copa do Mundo na África do Sul e o Brasil busca incessantemente acompanhar os passos da seleção brasileira de futebol.
Aquela bandeira empoeirada que estava guardada no fundo da gaveta é sacudida e hasteada. Queremos demonstrar nosso amor à Nação. Tudo gira em torno do amor à Pátria. A mídia veicula diversas formas de demonstração do nacionalismo. De certa forma, somos “obrigados” a vestir as cores da nação e gritar em um só coro que somos brasileiros. Será que realmente somos brasileiros ou é só mais uma ideologia assimilada?
Enquanto preparamos nosso lares e nossas vidas para defender o nosso nacionalismo durante a Copa do Mundo; nossas mazelas são engavetadas no fundo da obscuridade do esquecimento. Para que pensar em pobreza, violência, corrupção e tantas outras coisas se o que mais importa é a nossa seleção ser campeã! O Brasil pára quando entra a seleção de futebol em campo. A economia deixa de arrecadar milhares e milhares de reais durante alguns minutos de partida de futebol. E, nada mais comum, para um típico brasileiro que o absenteísmo no trabalho.
Nunca um povo demonstrou tanta devoção em um período que não seja em Copa do Mundo. É a máxima da expressão do nacionalismo. Será que teríamos a mesma comoção para lutar pelos direitos coletivos? Será que gritaríamos nas ruas que somos brasileiros quando no Congresso Nacional aprova medidas que beneficiam a classe dominante? Será que vestiríamos uma camiseta nas cores da Bandeira Nacional para demonstrar que somos brasileiros mesmo sabendo que nossa Nação é corrupta e que não serve de parâmetro para nenhum outro país? Será teríamos tanta devoção se a seleção de futebol não estivesse participando de um campeonato de futebol mundial?
Muitos de nós, não entendemos os significados das palavras patriotismo e nacionalismo e, por muitas vezes, confundimos e achamos que ambas palavras são sinônimos. O patriotismo é o sentimento de amor, devoção ou dedicação à pátria, aos seus símbolos. Já o nacionalismo é uma ideologia, que levam as pessoas a serem patriotas. Nem sempre quando somos patriotas estamos sendo nacionalista. Nosso patriotismos pode está restrito a um objeto, a uma circunstância ou a um determinado tempo. Existem diferentes tipos de patriotismo, de patriotas e diferentes maneiras de mostrar o patriotismo. Um exemplo clássico é o patriotismo nos desportos: há grande parte da população que tem orgulho de sua pátria quando ela está representada por atletas em competição.
Infelizmente, nosso povo resume o patriotismo ao desporto. Nem sempre mostramos o nosso amor ao Estado a não ser em campeonatos. E, esse patriotismo dura enquanto somos vitoriosos. A partir do momento que somos derrotados, as cores nacionais ficam desbotadas; as bandeiras hasteadas são devolvidas aos fundos das gavetas e armários; a camiseta que transmitia orgulho, agora causa vergonha. Enfim, deixamos de ser brasileiros.
Triste realidade, amarga e cruel. Cadê o nacionalismo? Cadê o patriotismo de outrora? Quem irá sentir orgulho de uma nação não vitoriosa, cheia de problemas sociais? Somente depois de uma desilusão é que enxergamos os defeitos de nossa Pátria. Se pudéssemos, com certeza, mudaríamos de nacionalidade, de país. Nosso patriotismo torna-se volúvel, fugaz.
Não tenho a intenção de pregar o fim do patriotismo ao desporto, mas queria muito ver/sentir toda essas mobilizações em apoio a seleção brasileira de futebol também nos movimentos sociais. Queria escutar o grito ensurdercedor de gol nos protestos em defesa da vida humana. Gostaria de ver o Brasil pára alguns minutos para dedicar-se aos excluídos. Gostaria de ver a Nação lutando por uma sociedade mais justa e livre. Gostaria de ver em cada coração as cores da Nação e o orgulho de ser brasileiro, mesmo sabendo que não somos vitoriosos, mas que temos a vontade de transformar tudo a nossa volta.
Podemos sim, ser brasileiro e mostrar nosso patriotismo; pois, nosso maior símbolo e o qual deveríamos ter devoção chama-se “povo brasileiro”. É para o nosso povo que devemos mobilizar-se, gritar, vestir a camiseta verde-amarelo em todas as suas nuanças. Não somente nos campeonatos esportivos, mas em todas circunstâncias. Só assim, poderíamos de fato mostrar nosso amor à Pátria
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

A educação e meu destino



Quando era garoto lembro-me bem quando minha mãe iniciou a vida docente. Numa comunidade humilde todas as noites, ela se dirigia a um tipo de galpão onde se realizava encontros da comunidade. Na época, eu não entendia o que era Associação de Moradores, só sabia que os moradores do bairro se reuniam no domingo pela manhã para discutir os problemas do bairro e, que se diga de passagem, eram muitos. Boa parte da minha infância e adolescência reside neste bairro e aprendi de forma não sistemática, a conviver com o descaso das autoridades governamentais, o preconceito, a marginalização, a sonhar e crer numa vida melhor.
Contudo, algo estava mudando naquele bairro, além de quererem melhorias para a comunidade, sentiam-se a necessidade de “dominar as letras”. Pode ser para quem esteja lendo esta postagem ache algo banal, mas para quem ver uma página contendo dezenas e dezenas de letrinhas um mundo mágico que se desvenda aos olhos. Dos anseios da comunidade e movida pelo desejo de uma sociedade justa; um grupo de professoras universitárias realizam um projeto de educação popular. Inspiradas na vida e obra de Paulo Freire, as utópicas educadoras decidem realizar o projeto na comunidade em que eu residia. Entusiasmada com a novidade, minha mãe, coloca-se a disposição do projeto e inicia junto com as demais professoras um projeto de inclusão social por meio da educação.
E assim, durante algumas semanas, minha mãe, às noites se dedicava a decodificar o mundo encantador das palavras para aquela comunidade. Naquele período, eu já era alfabetizado, estava cursando a 1ª série do Ensino Fundamental. Porém, não perdia se quer uma noite de aula. Era a minha diversão predileta: acompanhar minha mãe e assisti-la. Sentia orgulhoso e muito envaidecido. Oras, nem todo mundo tem como mãe uma educadora. Uma mulher “letrada”, educada. Lembro-me bem, como minha mãe era querida, admirada. Numa sociedade em plena década de 80, numa comunidade pobre, marginalizada e machista; uma mulher independente, dona do seu destino, que conciliava as tarefas do lar com uma profissão, para muitos era algo extraordinário.
Os dias iam passando e eu assistindo a dedicação da minha mãe com seus alunos. Embora, também tinha passado pelo processo de alfabetização ficava encantado com a alegria daqueles alunos, muitos deles já calejados pela vida, com o progresso que obtinha. Das mãos grossas e cheias de calos brotava as primeiras letras. Quantas pontas de lápis foram quebradas; quantas folhas de cadernos foram rasgadas; quantas folhas foram borradas pelas lágrimas de emoção a cada passo que conquistavam; quantas linhas foram preenchidas por uns garranchos que aos poucos se transformava em cidadania. Sim! Aos poucos eles estavam aprendendo como exercer a cidadania e o primeiro passo era saber como escrever seus próprios nomes. Não era somente os alunos que não queria perder um dia de aula; eu também não queria. Estava encantado com o mundo da aprendizagem e nem se quer percebia que um dia isso iria influenciar nas minhas decisões futuras.
O tempo foi passando e a cada dia convivia com o universo da educação. Não poderia ser diferente; eu era filho de uma professora. Vivia cercado de livros, cadernos, apostilas, provas e tudo aquilo fazia parte da minha vida como o ar que respiramos e a água que bebemos. Cresci e chegou o momento crucial da vida de qualquer jovem, a escolha da profissão em que irá se dedicar por alguns anos da vida. Pensei e refleti, ate que cheguei a conclusão que iria fazer a inscrição do vestibular para Pedagogia e Enfermagem. Muitos estranharam a minha escolha. Porém, é cruel para um jovem ter que decidir pelo seu futuro. Resolvi resgatar no meu ser os meus sonhos e desejos. Pensei muito sobre cada profissão, pós e contra de cada uma e as minhas condições. Embora, nossos sonhos sejam ilimitados, mas a realidade é outra. Muitas pessoas sugeriram alguns cursos, entretanto, as lembranças do passado fizeram tomar a decisão. Lembrei da dedicação da minha mãe e do amor que ela recebia dos seus alunos e assim, escolhi cursar Pedagogia.
A Enfermagem entrou na minha vida de forma de manifesto, sentia que não era só de educadores que a sociedade necessitava, mas de profissionais em saúde que pudessem cuidar com carinho de vidas. Poderia ter escolhido a Medicina; não somente, pelo poder econômico, como também, pelo status social. Quantos jovens que convivem em comunidades carentes não sonham mudar de vida e crer que a Medicina pode romper as barreiras? Segui o contrário, não desejava obter status e muito menos, dinheiro. Eu queria era ser útil. Assim, a Enfermagem entrou na minha vida, pois não é só mais uma área da saúde, mas uma atividade de amor. Iguais aos educadores, os enfermeiros exercem suas atividades com empatia e doação. O afeto e o carinho são os instrumentos que cada um destes profissionais utilizam no seu dia a dia.
Foram alguns anos convivendo com o mundo acadêmico das universidades. Pressionado, tentei, melhor, fingi que estava tentando prestar vestibular para outras áreas mais “nobres” que a sociedade tanto idolatra. Não tinha vocação para outras áreas e já concebia que uma destas áreas seria o meu alimento de cada dia. Não desisti, continuei a seguir os meus sonhos. Recebi o grau e estava apto a entrar no mercado de trabalho. Fazer a ultrapassagem da academia para o mundo do trabalho não foi fácil. Os sonhos de mudar o mundo, a sociedade; o desejo de ser útil foram aos poucos sendo minados pelas portas que foram fechadas, pelas promessas que não foram cumpridas. Aos poucos, fui percebendo que a vida adulta era mais complexa do que eu imaginava e que ter um curso superior não era garantia de emprego. Quantas críticas; quantas palavras dolorosas não escutei. Muitos faziam crer que se eu tivesse cursado a tal de Medicina/ Direito com certeza não estaria sem trabalho. Meus certificados de conclusão de curso parecia com um enfeite que ornamentava minha alma. E todo segundo escutava: a melhor coisa a ser feita era dedicar-se aos concursos públicos. Ter uma vida estável era o que muitos desejavam para mim. Sentia-me triste. Não exercer a profissão a qual escolhi era o mesmo que amputar um membro. Vivi dias de luto. Tudo fazia crer que era melhor rasgar meus certificados e sofrer de amnésia; só assim, poderia me dedicar a uma vida trancada dentro de um escritório.
Com baixa estima, tentava manter na minha alma a chama acesa dos meus sonhos. Como é torturante ser questionado, depreciado, julgado. Embora, vivendo uma tempestade de dilemas e aflições, preservava a faísca dos meus sonhos e acreditava que nem que fosse nos últimos dias de minha vida, iria exercer a aquilo que escolhi para minha vida. Já abalado com tantas cobranças e palavras não confortáveis, prestei concurso para professor seletista do Estado. Não era um cargo efetivo, mas temporário. Contudo, precisava sentir útil. Necessitava sentir vivo. Fazer concurso para professor temporário; perder tempo em vez de se dedicar a um concurso efetivo era muitas dos questionamentos que recebia. Na realidade, não tinha condições psicológicas para concentrar e dedica-me a um concurso que não pertence à área de minha formação. Enfim, logrei exito: fui aprovado. Nossa! Como é bom saber que é capaz; que o mundo pode ainda ter cores. Pode ser que a alegria que senti tenha sido exagerada, porém, para um ser que foi empurrado para o fundo do poço, saber que é capaz é receber as bençãos dos céus. O sol tornou-se mais radiante; a vida mais saborosa. Eu estaria a um passo de ser PROFESSOR e ter meu primeiro emprego era algo fascinante.
Fui convocado, assumi o cargo de professor do ensino médio profissionalizante. Conheci meu local de trabalho, recebi a lista de turmas em que iria ministrar aulas e tudo era mágico para mim. Estava radiante com a novidade. Oras, agora eu estava tendo a oportunidade de unir as minhas duas formações universitárias: a Pedagogia e a Enfermagem. Senti-me submerso em meio a tantos sentimentos e emoções que afloravam com a novidade. Tinha uma grande missão: educar/preparar jovens para o mercado de trabalho e essa missão era mais do que transmitir os meus conhecimentos, era uma forma de satisfazer meu ego.
Ah! Meu primeiro dia de profissional. Nervosismos; sudorese excessiva, calafrios, entre outros, faziam parte do meu ser. Não podia falhar. Era a oportunidade de conquistar o mercado de trabalho e colocar em prática tudo aquilo que aprendi na academia. Entrei na sala de aula. Fiquei alguns minutos contemplando aquela turma de primeiro ano do curso Técnico em Enfermagem. As lembranças de quando eu era pequeno veio à mente: eu estava seguindo os passos da minha mãe. Estava iniciando minha vida docente. Meu coração disparou, sentir perder o piso sob aos meus pés. Queria fugir dali, mas não podia: a parti daquele momento, eu estava entrando no mundo mágico da educação. Controlei minha emoção, meu nervosismo e comecei a conhecer a cada um daqueles que estavam sob minha responsabilidade intelectual. Os minutos iam voando e quando percebi o sinal estava soando, finalizando a aula. Ufa! Sobrevivi o meu primeiro dia de professor.
Comecei a colocar em pratica os métodos e técnicas de ensino aprendidas no curso de Pedagogia, mas a realidade é diferente daquelas encontradas nos livros lidos na universidade. A educação é muito mais heterogênica do que eu imaginava. Hoje tenho a certeza que muitos dos ensinamentos de didática não tem nenhum efeito frente a necessidades tão diversificadas dos educandos. Cada um na sua individualidade cognitiva exige um manejo adequado e que suprir as necessidades de todos se torna uma missão impossível. Com acertos e erros, estou tentando encontrar a maneira mais eficaz para penetrar no mundo cognitivo dos meus alunos. Tenho a certeza que não irei suprir os anseios de todos, mas estou disposto a suprir o maior número de alunos possíveis. Sei que não existe manuais, receitas prontas de como ser um bom professor. Porém, reconheço que o melhor método de ensino é a doação. Não uma qualquer doação, e sim, uma doação comprometida com a mudança de atitudes. Não adianta discorrer sobre todo o conhecimento acumulado pelas gerações passadas se esses conhecimentos não forem envolvidos pelo amor. Essa é a maior lição que eu estou aprendendo no exercício de minha atividade laboral: não importa o método, o conteúdo, a técnica, os recursos audiovisuais se estes não conter uma gota de amor.
Sinto-me orgulho de ser professor; em dizer que tenho como profissão a educação. Sei que muitos outros profissionais são mais valorizados e recebem da sociedade maior prestígio. Sei também, que somo marginalizados e financeiramente, recebemos tão pouco pela grande importância que desempenhamos na sociedade. Contudo, se não existisse a profissão professor, não teríamos as demais profissões. É a partir do nosso trabalho que formamos os demais profissionais. E assim, procuro no meu trabalho fazer com que os meus alunos compreendam a importância da educação na vida de cada ser. Para isto, além de transmitir os conhecimentos científicos e técnicos da Enfermagem, procurarei envolvê-los com afeto para que estes profissionais recebam durante a sua formação o que é o mais sagrado no ser humano: a subjetividade do amor. Para que no seu dia a dia possam exercer sua profissão com carinho e dedicação, ou seja, com técnicas e procedimentos que valorizem e respeitem a dignidade humana.
Hoje está fazendo um mês que iniciei a vida docente. Já dizia Paulo Freire que ninguém foge da educação e, com certeza, eu não consegui fugi. Apesar do cansaço físico e mental, acredito que fiz a escolha certa. Espero conseguir conquistar meus objetivos e quem sabe um dia receber dos meus alunos o carinho e o respeito que um dia, quando criança no passado, eu via minha mãe recebendo. Não sei até quando irei exercer a atividade de educador, porém, quando o futuro não chega, irei dias após dias fazer um momento único na vida de cada indivíduo que estiver sob meus cuidados profissionais. Não sei se receberei o titulo de BOM PROFESSOR, mas irei esforçar-me a não ser considerado o pior deles.



domingo, 28 de fevereiro de 2010

Homens: mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas


Mulher! Um vocábulo simples que abrange uma significação complexa. Um ser de infinita adjetivação social que traz consigo o dualismo de sentimentos que são inerentes da essência feminina. Embora considerada um sexo frágil, ela vem mostrando a bravura de ser mulher. De uma simples imagem de objeto sexual e/ou reprodutora, a mulher vem conquistando, lado a lado com o homem, o seu espaço na sociedade desigual.
Desde o momento da construção da consciência feminina, a mulher na sua trajetória histórica vem lutando contra a visão machista da sociedade sem perder o que é mais de precioso: os aspectos subjetivos dos seus sentimentos.
Frágil, Guerreira, amante, entre outros. São vários os adjetivos relacionados à mulher que tentam dimensionar as características femininas quem embora a descrevam, não conseguem contemplar a infinidade da sua singularidade humana.
Sem perder o seu encanto, elas fazem parte do mercado de trabalho desleal; sofrem o assedio moral e sexual de uma sociedade que tenta desvalorizar seu papel na economia que ainda crer que a mulher é para o lar e educação dos filhos. A mulher é muito mais do que um simples lar; ela é construtoras dos avanços sociais. Com sua particularidade sentimental, elas conseguem conquistar o que querem.
Embora, seja alvo da brutalidade da competição do mercado de trabalho, elas conseguem educar e amar como ninguém. São mulheres como aquelas de Atenas cantada por Chico Buarque que são exemplos de amor e dedicação:

"Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Vivem pros seus maridos/ Orgulho e raça de Atenas/ Quando amadas se perfumam/ Se banham com leite, se arrumam/ Suas melenas. Quando fustigadas não choram/ Se ajoelham, pedem imploram/ Mais duras penas, cadenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Sofrem pros seus maridos/ Poder e força de Atenas/ Quando eles embarcam soldados/ Elas tecem longos bordados/ Mil quarentenas. E quando eles voltam, sedentos. Querem arrancar, violentos/ Carícias plenas, obscenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Despem-se pros maridos/ Bravos guerreiros de Atenas/ Quando eles se entopem de vinho/ Costumam buscar um carinho/ De outras falenas/ Mas no fim da noite, aos pedaços/ Quase sempre voltam pros braços/ De suas pequenas, Helenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Geram pros seus maridos/ Os novos filhos de Atenas/ Elas não têm gosto ou vontade/ Nem defeito, nem qualidade/ Têm medo apenas/ Não tem sonhos, só tem presságios/ O seu homem, mares, naufrágios/ Lindas sirenas, morenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Temem por seus maridos/ Heróis e amantes de Atenas/ As jovens viúvas marcadas/ E as gestantes abandonadas, não fazem cenas/ Vestem-se de negro, se encolhem/ Se conformam e se recolhem/ As suas novenas/ Serenas.
Mirem-se no exemplo/ Daquelas mulheres de Atenas/ Secam por seus maridos/ Orgulho e raça de Atenas.

Enfim, poderia ter utilizado qualquer outra musica para retratar a figura da mulher, porém, estaria tendo uma visão distocida da realidade feminina. Não que eu tenha uma imagem de mulher submissa, mas concebo uma visão romântica da mulher. São heroínas que convivem com o mundo selvagem sem perder a feminidade. Quando amam são amantes eternas, capazes de secarem e perderem a vividez por um grande amor. São seres apaixonantes e apaixonadas por seus ideais. Mulheres que lutam para serem felizes e para tornarem tudo a sua volta em amor. São mártires de uma sociedade em que a muito tempo perderam seus valores e princípios e, como homem, sugiro aos demais a mirarem no exemplo das mulheres de Atenas que largam tudo em favor dos seus ideais.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De volta à barbárie

Assistindo ontem o paredão do BBB10 percebi o quanto o Brasil é um país antagônico. Durante séculos o povo brasileiro lutou pelos direitos humanos; direito da livre expressão; direito a liberdade sexual; direito de conviver numa nação sem preconceitos e rótulos. Foram inúmeros indivíduos que sacrificaram suas vidas aspirando um Brasil sem preconceitos, na tentativa de construir uma nação onde todos pudessem exercer sua cidadania de fato e de direito.
Não podemos esquecer que a historia brasileira foi, e ainda continua sendo, repleta de fatos de intolerâncias contra as minorias. Quantos índios e negros foram escravizados, mortos e ceifados seus direitos? Quantas mulheres foram destituídas do direito de decidir o seu próprio futuro, tornando meros objetos do machismo? Quantos homossexuais não foram agredidos e mortos pelo fato de lutar pela liberdade de expressar seu amor? Em nenhum momento da historia a classe dominante preocupou-se com os excluídos e os marginalizados, pelo contrário, procuraram cada vez mais segregar as minorias nos guetos da sociedade.
Quando achamos que estamos superando os nossos limites da intolerância ao próximo, assistimos em canal aberto a carnificina dos direitos individuais de livre expressão. Sabendo que um dos maiores mecanismo formadores de opiniões é a televisão, a qual tem um papel crucial na formação de consciências humanitária, verificamos que este papel foi jogado na lata de lixo em prol da audiência e, quem sabe, obter mais lucros com a violação dos princípios éticos, morais e políticos.
Quantos brasileiros neste momento estão regozijando ao saber que um indivíduo másculo, com gírias toscas, comportamento selvagem e heterossexual foi escolhido para continuar na luta pelo um milhão e meio de reais?Algo contra? Não! Todos têm o mesmo direito, porém, não podemos esquecer que neste caso outra pessoa foi oprimida e marginalizada. Será que o resultado não seria diferente se a concorrente no paredão fosse heterossexual? Quantas pessoas não explodiram de alegria ao escutarem que um indivíduo iria quebrar o dedo da adversária e enchê-la de pancada até ser atendida num pronto-socorro se ela não fosse mulher? Quantos brasileiros não gritaram aos quatros cantos do país o seu apóio ao candidato e repúdio ao adversário do sexo feminino e de orientação sexual oposta?
“É isso mesmo Dourado, quebra o dedo desta sapatona!” “Vai Dourado, elimina essa bigoduda!” “Mostra ao Brasil que somos um país macho!” “Vamos acabar com essa viadagem no Brasil!” Essas e inúmeras outras frases foram clamadas em todo o Brasil. Contudo, alguém percebeu algo nestas frases? Por que será que em nenhuma das frases a Angélica não foi chamada pelo seu nome de batismo? Por que não o chamaram o Dourado de bruto, de selvagem, de tosco? Sabe por quê? Pelo simples fato da Angélica ser mulher e não ser heterossexual. Infelizmente a sociedade machista brasileira não aceita que a mulher ocupe espaço de destaque e muito menos recuse se submeter aos desejos sexuais masculinos.
Entretanto, não só culpo os brasileiros por esta atitude; a emissora contribuiu para que se propagasse uma cultura de intolerância e violência contra o próximo. Bem criativa as charges exibidas pelo programa. Porém, esquecemos de fazer uma análise profunda da ideologia imposta de forma astuciosa. Por que sempre as caracterizações dos indivíduos homossexuais são exacerbadas pela orientação sexual? Será que alguém percebeu que o veículo motorizado da Angélica tinha formato de sapato? Por que será que tinha esse formato e qual finalidade tinha? Seriam estereótipos...?
Fico ainda mais triste ainda em saber que milhares de brasileiros se lamentam ao ver na mídia indivíduos de orientação sexual diferente das deles e acham que os mesmos são influências negativas para a educação dos filhos. No entanto, nenhum pai ou mãe questiona os valores grotescos do Dourado. Será que estes pais preferem que seus filhos sejam agressivos, bandidos, agressores, assassinos a serem gays ou lésbicas? Cadê os valores humanos da família? Ser um indivíduo de orientação sexual diferente é tão tenebroso assim?
Não entendo o por quê dos brasileiros almejam tanto um país sem violência ao passo que nas pequenas atitudes se mostram intolerantes. Se quisermos educar nossos filhos na cultura de paz, valorizando os princípios éticos da boa convivência; é preciso, antes de tudo, aprender a respeitar o próximo. Ter uma tonalidade de cor diferente, uma orientação sexual diferente, um aspecto físico diferente não é sinônimo de inferioridade e, muito menos, de desprezo. Enquanto estivermos cultuando os valores de uma sociedade machista e preconceituosa nunca iremos sair do estado de barbárie. Não adiantar se gloriar em ser no futuro a quinta maior economia do mundo se o nosso povo não souber conviver com o diferente.